terça-feira, 8 de janeiro de 2013

hardknock. (da anorexia)

Toda a gente idolatra falsos Deuses. Sejam antigos, egípcios, hindus, gregos, romanos, eles existem. Andam por aí a distribuírem falsos ideais. É o que acontece com a anorexia. Alguns sofrem sem o quererem, outros são simplesmente deficientes. Em alguns casos, é fácil compreender, é normal querer ajudar. Os outros (e não são poucos) fazem parte de uma deficiência ainda não descoberta. É gozar com quem sofre sem opção e com quem não come por outros motivos. É gozar com os próprios pais e com a população em geral. No meio de todo este gozo, os espelhos acabam por os gozar a eles e a minha opinião ganha argumentos. É, claramente, uma doença mental, pois quem é que acha, no seu perfeito juízo, que pesar 30 kg é bonito? Os esqueletos não são bonitos, são esqueletos. São esqueletos. E entre toda esta alucinação, é possível retirar uma conclusão. A culpa acaba por nem ser deles, a culpa é minha e de toda a gente. Obviamente minha, porque pouco me importam estes casos, aqueles que podem escolher. A vida é difícil para toda a gente, sem exceções. Quantas pessoas passam por mim e foram talvez violadas, talvez abusadas, talvez mal-tratadas. Talvez tenham dormido num sofá, talvez nem casa tenham tido. Quantas já não passaram por demasiado? E muitas delas refugiam-se nelas próprias. E é por tudo isto que não tenho pena de anoréxicos por opção. (A vida não é perfeita, mas ninguém era feliz se, por acaso, a perfeição existisse. Sem tristeza, não há felicidade. Sem feio, não há bonito. E isto não passa de um ciclo fechado.) Tenho pena de mim, ligado ao cego que percorre o mesmo caminho todos os dias, sorridente. Enquanto eu choro por uma rapariga, ele sorri e nunca viu (uma). Nunca observou o detalhe de cada pixel fragmentado. Estes pormenores acabam por ser importantes, termos vergonha de nós próprios. Então, alguns anoréxicos deixam de ser relevante. Quando de um reforço de ego se trata, a vergonha desvanece-se. Quando o senhor Del Bosque foi levantar o prémio da FIFA, devia envergonhar-se e continuar sentado. Quando o senhor Cavaco decide dizer na televisão que ganhar 9000 euros por mês é pouco, devia envergonhar-se e emigrar. Quando o senhor Papa se levanta do seu berço, devia envergonhar-se. Quando o senhor Cabrão decide afirmar que os portugueses não deviam ficar doentes, devia envergonhar-se. Tanta vergonha que fica por se mostrar.

Decidi escrever isto por causa do que a Anouk Férrer escreveu aqui.

5 comentários:

  1. R: xD também eu! esta gente é mesmo doente por opção!

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  2. os teus "quandos" estão tão correctos men !

    brutal mibe, gostei muito ! :D

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  3. Miguel, estou a detestar-me por não vir cá mais vezes. Concordo com cada linha, juro!
    Não imaginas o quanto eu discuto com uma amiga minha magra, por ser obcecada com o peso. Só pensa em emagrecer, já chegou a tentar provocar o vómito... e o mais arrepiante, é que ela fala disso quase com orgulho.
    E assim como ela, existem outros. Todos querem obedecer a padrões absurdos e injustos, não sei bem em nome de quê. E sim, concordo com o fim. Concordo mesmo :)

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