Estou num quarto com a ventoinha ligada. A rua cheira mal, a parede não é lisa, cheia de picos. Tenho dois ambientadores em 6 metros quadrados. A luz está acesa mas para mim está escuro na mesma, sentindo-me preso e acorrentado a um sítio que me faz confusão. Não tenho conforto a que estou habituado, a comida sabe-me mal, apenas como fruta. Só tenho aulas daqui a 2 semanas e já me parecem 2 meses. Quero trabalhar e não pensar em mais nada. Falam-me de festas e só o pensamento começa a ser repelente. Quero ter uma rotina normal, quero ter uma vida normal, quero ser uma pessoa normal. Como pode haver tanta dor numa decisão pessoal sem influências externas? Assim que tomo banho, guardo tudo e levo de volta para o quarto. Tenho uma gaveta do congelador para mim. Gostava de viver sozinho, não ter que fazer isto. Levar a toalha de volta para o quarto.
Posso passar 3 horas bem, mas assim que me lembro do meu carro, do meu ar condicionado, da certeza de uma vida rotineira, desmancho-me em lágrimas. Ando de óculos de sol para ninguém ver nada. Óculos de sol escuros, assim como eu me sinto. Quero andar, quero sair daqui, quero não parar de andar. Quero apanhar o primeiro transporte disponível e voltar. Não quero ficar aqui, uma casa não é um lar. Não é dor nenhuma, é um aperto na garganta, são olhos vermelhos, correntes à volta do coração. É tudo e não é nada, quero saber o que vai ser da minha vida, quero saber tudo e, não sei nada. Muita gente se pergunta porque é que a vida não é justa e tudo o que eu quero saber é porque é que o que é correto dói tanto. Se está correto... Só quero que tudo isto acabe e que a minha vida a seja de facto consumado. Uma vida.
Wickeness
sábado, 2 de setembro de 2017
segunda-feira, 21 de abril de 2014
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