Existem memórias que nunca contei ninguém. E preocupações, sentimentos, por aí. Eu percebo perfeitamente o porquê de as pessoas “julgarem”, nem as censuro. Mas eu não sou rico. A minha vida não foi fácil (também não foi difícil) até agora. Muito do que tenho não me caiu no colo. Sim, os meus pais têm um BMW. Porque trabalham das oito da manhã às oito da noite e não é a olhar para o teto à espera que o dinheiro caia. A minha mãe trabalhava numa fábrica no Porto quando eu tinha 2/3 anos e ganhava o ordenado mínimo. O meu pai tem oito irmãos e raramente havia dinheiro quando ele vivia com os pais dele. Eu fiz voluntariado desde os meus 10 anos até quase aos 16. Eu ia para peditórios do Coração da Cidade para pedir comida para os sem-abrigo. Depois da escola e depois de estudar, eu ia fazer tabuleiros de comida para servir na instituição, e gostava de ajudar. Portanto sim, eu sei perfeitamente o que é pobreza e dificuldades. Já vi mães com 3 e 4 filhos entrarem lá dentro só para tomarem banho e pedirem um iogurte para os filhos. Também já vi drogados irem lá enquanto estavam no desmame e não é bonito. E se já não ajudo lá agora, é porque a minha mãe deixou de lá ir por razões que pouco interessam. Se vivo numa moradia, é porque alguém trabalhou para isso, e não foi pouco. Foda-se, o meu irmão chegou a dormir no sofá do escritório porque a minha mãe não parava para trabalhar para que pudesse dar-nos (mais a ele, porque eu era muito novo ainda) uma vida melhor, uma vida que ela não teve. E o dinheiro não é tudo. Eu e os meus pais temos opiniões muito diferentes em relação a quase tudo e discutimos imenso. Não que os ame menos por causa disso, é precisamente o contrário. Sempre que quero sair à noite e às vezes de tarde, tenho que quase fazer um requerimento à Câmara Municipal. Nunca estive fora de casa depois da uma da manhã e tenho quase 18 anos. Anteontem fui para a cama eram 22 e 40 e o meu pai fodeu-me a cabeça no dia seguinte. Hoje estive no café e toda a gente fuma lá dentro e ele fodeu-me a cabeça porque cheirava a tabaco. Nunca na minha vida festejei o São João (e vivo no Porto, sou uma vergonha) ou o Carnaval. Raramente peço dinheiro aos meus pais. A minha mãe é representante dos pais na minha turma (algo que fui contra, uma vez mais) e está sempre a reclamar. Eu sei que as pessoas notam e, mais uma vez, não censuro o que quer que seja que pensam. Já passei por situações que nem sequer admito a mim próprio, com medo que descubra algo bastante estranho sobre mim. Também estou sempre a discutir com muita gente da minha família. Aliás, do lado meu pai, nem sequer falo com ninguém sem ser as minhas 2 tias. O meu padrinho lembra-se que eu existo uma vez por ano (16 de Novembro, por alguma razão encornou que eu faço anos nesse dia) e eu digo-lhe obrigado, ele diz que devíamos almoçar um dia, eu digo que sim, e só falamos um ano depois. Odeio o resto dos anormais (ele incluído). Tenho boas notas nos testes e nem seque gosto de falar sobre isso, porque já sei o que as pessoas me dizem. E eu não gosto disso. Só quero que me vejam como um gajo normal.
Quando conhecemos alguém pela primeira vez nunca sabemos que tipo de história há por trás, e isso, muitas vezes, leva a alguns juízos de valor (uns mais graves do que outros).
ResponderEliminarGostei de ler esta tua "biografia". Pareces-me um gajo porreiro, pá.
:)**
Sim, sem papas na língua e com os pés bem assentes no chão :)
ResponderEliminarR:. Sim, está a ser uma leitura interessante, por acaso... e olha que eu raramente me prendo por um livro.
*
Às vezes também é preciso ter um pouco de agressividade! Mas eu prefiro chamar-lhe "assertividade" :)
ResponderEliminarPensava que estávamos a falar de ti, hahahaha.
ResponderEliminarIsso sim é que foi e está a ser uma vida vivida.
ResponderEliminarMais vale viver com pouco dinheiro e feliz, do que rico e uma pessoa fútil (:
ahaha a sério que não sabes o que é ? xD
ResponderEliminarsão alianças que os namorados usam. as chamadas «anilha de pombo» xDD
não podes estar a falar a sério xp
ResponderEliminaraí homem fiquei triste por saber que nunca festejaste o s.João. aí adoro... mas calma há -de chegar o dia, qt ao resto tem calma os pais as vezes padsam-se mas não é por mal.
ResponderEliminar(qt ao moreno, acho que vou esquecer mais vale)
Olha, em primeiro lugar quero pedir desculpa porque, graças a um post da patrícia, fui inspeccionar e tinha um comentário teu recambiado para spam.
ResponderEliminarObrigado pela dica, mas eu nem preciso muito daqueles serviços. Ando entretido a descobrir, só isso.
Quanto ao post... bem eu já sou um pouco (pouqinho eheh) mais velho mas passei por uma fase idêntica (tirando a parte do BMW que não me importava nada de ter eheh), sempre às marradas com a minha mãe, que era viúva com dois filhos menores. Ela morreu no mesmo hospital e na mesma altura em que eu lá estava também a morrer e acabámos de costas voltadas, por causa de problemas na adolescência. É normal, os conflitos de gerações vão existir sempre, porque é difícil aos pais acompanharem a evolução e perceberem que só não fizeram as mesmas merdas que os filhos, porque os tempos eram outros.
Quanto à família... bem os únicos familiares por quem eu me atirava ao mar, eram a mulher, a filha e uma cadela que é a minha segunda filha. O resto, puta que os pariu. Podem ladrar quando eu passo, mas de certeza não me mordem porque nem paro.
Olha, tudo isso que estás a passar agora, toda essa componente social que o voluntariado tem, vão ajudar-te a crescer e a ser gente.
O resto, dizem que o tempo apaga tudo, mas eu não acredito. Temos que aprender a viver com as cicatrizes e a sermos felizes com o facto de acordarmos a mexer. :/
ok, não és mesmo normal xD
ResponderEliminarEra bom que toda a gente entendesse isso. É muito mais fácil julgar. Mas que se há-de fazer em relação a essas pessoas ? Ignorar. E muita gente pensa que as pessoas que conseguiram uma boa vida, que tiveram tudo caindo-lhe do céu.
ResponderEliminarE nem todas as nossas relações são como queríamos, infelizmente.
és sim, porque é cultura geral pá :)
ResponderEliminarGosto imenso do que escreves e entendo-o. És mais normal do que imaginas, ou talvez também eu seja anormal. :)
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