segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

yonkers.

Adoro ver o mundo em quadrados. Eles completam as visões já muito preenchidas, dão uma nova construção a ideias vazias. Oh, se eu visse tudo quadriculado. Tudo circulava até se tornarem losangos perfeitos e se dividissem em triângulos. Não havia curvas de forma nenhuma. As bolas seriam paralelepípedos e também as pessoas. Não, a maioria das figuras acabaria por sair quadrada. E já têm muita sorte em não serem unidimensionais, presos numa reta sem fim e sem início. Porque é isso que elas são. Não passam de uma reles imitação de um quadro leve. Um quadro que eles bem acham estar acabado mas que, na verdade, apenas tem breves pinceladas da mesma cor. É um problema geral que me consome. Toda a gente pinta de azul o céu. Quando, na realidade, o céu não é. Ele é vazio, incolor, enevoado (e mesmo as nuvens não são brancas ou nuvens). Ninguém sabe como ele é, pois nunca ninguém se atreveu a olhar diretamente para cima (não abrangendo a noite, que não vai além também da falta de cor). Se, por falta de eletricidade, se desligarem as luzes, toda a gente se apercebe do mesmo que eu. Não há azul, há preto. Será, então, que é tudo preto, cinzento e branco? Variações do mesmo composto que acabam por resultar na dominância incompleta de quadros outra vez mal pintados. Como se um quadro branco não fosse um quadro, ignorantes artísticos prestes a rebelar-se contra uma qualquer fação de opiniões divergentes. E eles divergem, oh, se divergem! Que extravagância essa, querer pintar tudo com cores que nem cores fingem ser. Outro infortúnio detetado. Começam os procedimentos para que se erradique esta enfermidade minha, doença por sinal bastante vívida. E agora, serei eu azul como os demais? Não, permaneço um dálmata com o pelo eriçado. Por mais que pintem o meu corpo, a minha alma será sempre uma explosão de preto e branco, misturados então, criando o cinzento.

6 comentários:

  1. Exactly! É absurdo -.-
    Bem, eu sou redonda... assim já cá posso vir, já? Já mereço a tua consideração? xD

    Ok, eu gostei mesmo disto :)

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  2. Obrigada pelas palavras, Miguel. Tens aqui um bom blog, sigo :)

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  3. brutal(no sentido positivo claro) o texto men, muito bom ! :)

    "Não, permaneço um dálmata com o pelo eriçado" ahah, ri-me tanto !

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  4. Habituamo-nos a ver tudo conforme nossas capacidades e limitações que até nos esquecemos que tudo existe de forma diferente para cada um.

    As coisas em si mesmo será que existem? Não sempre construções humanas?

    beijo

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