segunda-feira, 29 de abril de 2013

Estado de Espírito (V)

Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja —
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Fecharam-me todas as portas abstractas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta – até essa vida...

Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.

Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do sul impossível aguardam-me náufrago;
Ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.
Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma...
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas cortes por existir, esfaceladas em Deus.

Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida…
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui…
Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar.
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligados por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?

Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.

Outra vez te revejo – Lisboa e Tejo e tudo –,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver…

Outra vez te revejo,
Sombra que passa através das sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir…

Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim -
Um bocado de ti e de mim!...

Álvaro de Campos

domingo, 28 de abril de 2013

Estado de Espírito (IV)

Annie: I haven't seen you this dumb, since you got that candy corn tattoo.
Dylan: It's a lightning bolt! With extra powers!
Annie: Dylan, you can't name one thing that's wrong with her.
Dylan: I can never go out with her. She's too fucked up. She doesn't want a boyfriend. She's too damaged. Magnum, P.I. couldn't solve the shit going on in her head.
Annie: Wow! You'll say anything right now not to admit that you're perfect for each other.
Dylan: Why are we still having this conversation?
Annie: Because I'm right.
Dylan: Good talk, Annie.

(...)

[finding her sitting on the roof of her favorite skyscraper]
Jamie: How did you know I was up here?
Dylan: Only place in this city you don't get reception.
Jamie: Right.
Dylan: Why are you avoiding me?
Jamie: I'm not.
Dylan: Really? Come on, Jamie.
Jamie: Well Dylan, I don't know if you've heard. But I am seriously fucked up! I mean Magnum, P.I. couldn't solve the shit goin' on up here.
[realizing that she had overheard his what he had said about her to his sister]
Dylan: My God! I'm sorry.
Jamie: I'm just gonna go and try to fix the shit goin' up on in my head. If that's even possible.
(...)
Jamie: I wanted this? Just me. God, you are just like every other guy! The sad thing is, Dylan, I actually thought you were different.
Dylan: Different from what? I'm not your boyfriend, I'm your friend.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

king wizard.

Como seria a vida de um triângulo que tivesse o seu tempo de reação atrasado em 5 segundos? E os carros, como andariam mais devagar. Ao perder 5 segundos, ganhar-se-iam 10. Não existiam aqueles borrões de luz tão lentos. Perde-se tanto ao não ver uma imagem arrastada, como uma aguarela. Um ponto seria uma reta, uma reta seria um fio de luz e um fio de luz seria uma estrela. Um automóvel com cabelo longo. Os faróis de xénon. As jantes antigas. O veludo que assombra todo o interior. As luzes que se acendem no velocímetro quando se viaja de noite. Até mesmo a poeira levantada pelos pneus seria digna de uma sinfonia. Cada grão de pó teria uma trajetória distinta e distinguível por todo o homem. Quando se cortasse uma unha, ver-se-ia essa mesma unha a voar lentamente em busca da liberdade. Se o mundo atrasasse 5 segundos, seria eu capaz de desenhar uma figura geométrica com 2 linhas retas? Estaria eu apto para manufaturar um sólido que albergasse todo o mundo dentro de si e não tivesse volume? Escreveria à velocidade da luz e teria que deixar o computador ligado e veria as letras a aparecerem lentamente no ecrã, como se já estivesse destinado e escrito. Será que a luz do Sol ainda existiria? Não haveriam limites. Tudo seria simples, como viajar de avião. Aviões suburbanos que fazem escala em parques marítimos para abastecer a frota de camarões. A complexidade de qualquer avião reside no exagero. Sem esse mesmo exagero, não seria complexo. Em contrapartida, não seria um avião. Naus, que se viajassem por túneis não seriam naus, o são certamente. Um vaivém especial que ainda não levou ninguém à Lua. O mundo atrasou 5 segundos mas não se tome o caso da Lua. A Lua é… a Lua. Não é luminosa mas é iluminada. Ao refletir como um espelho nunca atrasará, surge sempre de noite, como todas as coisas belas e complexas e anormais e pré-históricas e metafísicas. E o belo da Lua, é que não é como a picanha. Todo o Homem enjoa picanha quando come todos os dias. A Lua é como o sexo, pode-se ter a toda a hora e nunca enjoará. E 23 vénias aos Correios. Postais são pré-históricos e não deixam de se conduzir. Reis incógnitos e mal-amados. O mundo atrasou todo o tempo do mundo e os ecrãs dobram-se, as luzes expandem-se em busca de universos alternativos e os buracos negros são uma espiral portal. As portas atravessam-se e a maior de todas está por debaixo dos meus pés. Posso cair e acelerar. Segunda derivada. Posso ver morcegos do tamanho de coelhos e posso ver minotauros a entrar em clubs de strip. Posso ver a Alice, recorde-se que ela caiu de um buraco, não de uma porta, gente fina é de outra postura, que se perdeu e agora chama a tudo isto o país das desilusões. Alice caminhou até os pés caírem, pois sabia que cresceriam novos como as estrelas-do-mar. Faz o teu caminho, Alice, faz o teu caminho, olha que não há mais destino do que num caminho. Posso voltar a cair, não de uma porta, mas sim de uma grade. Deixai o mundo atrasar 5 segundos.

sábado, 20 de abril de 2013

Estado de espírito (III)

You know I just don't get it
Last year I was nobody
This year I'm selling records
Now everybody wants to come around like I owe em something
The fuck you want from me ten million dollars
Get the fuck out of here

You see I'm just Marshall Mathers
I'm just a regular guy
I don't know why all the fuss about me

Nobody ever gave a fuck before
All they did was doubt me
Now everybody wanna run their mouth and try to take shots at me

You might see me jogging
You might see me walking
You might see me walking a dead rottweiler dog
With its head chopped off in the park with a spiked collar
Hollering at him cause the son of a bitch won't quit barking
Or leaning out a window with a cocked shotgun
Driving up the block in the car that they shot Pac in
Looking for Big's killers
Dressing ridiculous
Blue-and-red
Like I don't see what the big deal is
Double barrel 12-gauge bigger than Chris Wallace
Pissed off cause Biggie and Pac just missed all this
Watching all these cheap imitations get rich off em
And get dollars that should've been theirs like they switched wallets
And amidst all this Crist' popping and wrist watches
I just sit back and just watch and just get nauseous
And walk around with an empty bottle of Remy Martin
Starting shit like some 26-year-old skinny Cartman

Goddammit
I'm anti-Backstreet and Ricky Martin
With instincts to kill N'Sync
Don't get me started
These fucking brats can't sing and Britney's garbage
What is this bitch, retarded
Give me back my sixteen dollars
All I see is sissies in magazines smiling
Whatever happened to wiling out and being violent

Whatever happened to catching a good old-fashioned
Passionate ass-whooping
And getting your shoes coat and your hat tooken

New Kids on the Block sucked a lot of dick
Boy girl groups make me sick
And I can't wait 'til I catch all you faggots in public
I'mma love it

Vanilla Ice don't like me
Said some shit in Vibe to spite me
Then went and dyed his hair just like me
A bunch of little kids wanna swear just like me
And run around screaming
I don't care, just bite me
I think I was put here to annoy the world
And destroy your little four-year-old boy or girl
Plus I was put here to put fear in faggots who spray Faygo Root Beer
And call themselves clowns cause they look queer
Faggy 2 Dope and Silent Gay
Claiming Detroit
When y'all live twenty miles away
And I don't wrestle
I'll knock you fucking faggots the fuck out
Ask em about the club they was at when they snuck out
After they ducked out the back when they saw us and bugged out
Ducked down and got paintballs shot at they truck, blaow
Look at y'all running your mouth again
When you ain't seen a fucking mile road south of 10
And I don't need help from D-12 to beat up two females
In make-up who may try to scratch me with Lee Nails
Slim Anus
You damn right, slim anus
I don't get fucked in mine like you two little flaming faggots

Cause I'm just Marshall Mathers
I'm not a wrestler guy
I'll knock you out if you talk about me
Come and see me on the streets alone
If you assholes doubt me
And if you wanna run your mouth
Then come take your best shot at me

Is it because you love me that y'all expect so much of me
You little groupie bitch
Get off me, go fuck Puffy
Now because of this blonde mop that's on top
And this fucked up head that I've got
I've gone pop

The underground just spunned around and did a 360
Now these kids diss me and act like some big sissies
Oh, he just did some shit with Missy
So now he thinks he's too big to do some shit with MC Get-Bizzy
My fucking bitch mom's suing for ten million
She must want a dollar for every pill I've been stealing
Shit, where the fuck you think I picked up the habit
All I had to do was go in her room and lift up her mattress
Which is it bitch
Mrs. Briggs or Ms. Mathers
It doesn't matter your attorney Fred Gibson's a faggot
Talking about I fabricated my past
He's just aggravated I won't ejaculate in his ass
So tell me, what the hell is a fella to do
For every million I make
Another relative sues
Family fighting and fussing over who wants to invite me to supper
All of a sudden, I got ninety-some cousins
A half-brother and sister who never seen me
Or even bothered to call me until they saw me on TV
Now everybody's so happy and proud
I'm finally allowed to step foot in my girlfriend's house
And then to top it off
I walked to the news stand
To buy this cheap-ass little magazine with a food stamp
Skipped to the last page
Flipped right fast
And what do I see
A picture of my big White ass
Okay, let me give you mothafuckas some help
Um, here, XXL, XXL
Now your magazine shouldn't have so much trouble to sell
Ahh fuck it, I'll even buy a couple myself

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Estado de espírito (II)

Hey there Delilah
What's it like in new york city
I'm a thousand miles away
But girl tonight you look so pretty
Yes you do
Times square can't shine as bright as you
I swear it's true

Hey there Delilah
Don't you worry about the distance
I'm right there if you get lonely

Give this song another listen
Close your eyes
Listen to my voice it's my disguise
I'm by your side

Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
What you do to me

Hey there Delilah
I know times are gettin hard
But just believe me girl
Someday I'll pay the bills with this guitar
We'll have it good
We'll have the life we knew we would
My word is good

Hey there Delilah
I've got so much left to say
If every simple song I wrote to you
Would take your breath away
I'd write it all
Even more in love with me you'd fall
We'd have it all

Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me

A thousand miles seems pretty far
But they've got planes and trains and cars
I'd walk to you if I had no other way

Our friends would all make fun of us
And we'll just laugh along because we know
That none of them have felt this way
Delilah I can promise you
That by the time that we get through
The world will never ever be the same
And you're to blame

Hey there Delilah
You be good and don't you miss me
Two more years and you'll be done with school

And I'll be makin' history like I do
You know it's all because of you
We can do whatever we want to
Hey there delilah here's to you
This one's for you

Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
Oh it's what you do to me
What you do to me

(no one believes me)

Estado de espírito (I)


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Sem óculos (a epifania da criação).

Construir não passa de criar. Criar fundação sobre fundação, cimento que suja a pele cinzel que esculpe. A criação é um tema abstrato. Até eu fui criado. O processo de criação envolve a experiência alucinante de inspiração extracorporal. O génio cria, o artista cria, o poeta cria, o professor cria e até o trolha cria. A questão que se coloca é óbvia: Serão todas as criações necessárias? Eu acredito que sim. Se apenas existisse a criação bela, o belo transformar-se-ia em normal, iria alterar os padrões de análise. Num exemplo mais tradicional, se todas as mulheres fossem atraentes, deixariam de o ser, para serem incluídas no padrão da normalidade. Voltando à generalidade. A criação "feia" é necessária. É necessária porque, logo à partida, é bela. Toda a criação é bela, logo, a criação "feia" é bela. E nós necessitamos do belo para sobreviver. Apontem-me uma caneca partida e eu direi que o seu uso foi ideal. O que foi criado, pode ser recriado. Pode ser analisado por diferentes pessoas e surgirão diferentes opiniões e interpretações. Somos todos criações.



terça-feira, 9 de abril de 2013

Sem óculos (a epifania das flores).

As flores são belas. Não há ninguém que me faça pensar o contrário. Até flores murchas são belas. As rosas, os cravos, as margaridas, os malmequeres, as tulipas e outras tantas cujo nome não me recordo. Nascem no alcatrão, nas florestas, nos jardins, nas quintas, na madeira e em outros tantos sítios. A sua vida é bastante simples, é água e sol. É nascer, crescer, morrer. Às vezes nascem sozinhas, às vezes nascem juntas a milhares de outras. Umas são amadas, outras são pisadas. Outras recolhidas e analisadas. Há pessoas que são flores. Há carneiros que são flores. Há mundos que são flores e há flores que são mundos. Há computadores que são flores. Existem flores estreitas e compridas. Existem flores caídas no chão. Uma flor não é só um objeto ornamental, é uma vida de solidão e inércia. É a falta de ação e de compreensão que as define como  seres naturais. Elas nascem e crescem sem opinar sobre o assunto e nem decidem de que lado da cama irão dormir. Quando morrem, quem me diz que não são finalmente livres? Somos todos flores.



domingo, 7 de abril de 2013

TRASHWANG.




"MIGHT FUCK AROUND AND BE A GOAT NAMED FELICIA! Sorry, got a little excited, it's probably from all the meth Walt. Jr. provided."

quarta-feira, 3 de abril de 2013

answer.

Falam. Todas as pessoas que têm boca, falam. Podem não ter nada de útil para dizer mas, mesmo assim, tentam emitir sons, sons esses que são incomodativos, que é para não dizer que me irritam. São opiniões que nada acrescentam a ninguém, não têm importância e são ridículas. Faz-me querer arrancar os ouvidos. Ainda se espantam que alguém esteja sempre com os phones ligados ao telemóvel. São as conversas de merda que se ouvem no café, são os treinadores de bancada, são os diálogos que são uma tentativa frustrada de comunicação, é tudo isto que não consigo suportar. São as mentiras descaradas, é a hipocrisia em qualquer canto, são os falsos ideais idolatrados, é a não-aceitação de factos irrefutáveis. É a burrice que se vê, é a burrice que se ouve. É acreditar que existe uma sexta-feira por ano em que não possa comer fiambre, é acreditar que entrar num sítio e ouvir pedófilos a falar redime tudo o que é pecado, é acreditar que não se pode ser religioso sem ir à igreja, é acreditar que discordar da interpretação da religião se torna heresia, é acreditar que para se ser uma família seja necessário tomarem o pequeno-almoço juntos. E disto são todos hipócritas, criticam sempre que avistam sangue, cumprimentam-se e abraçam-se como comadres, voltam a criticar-se como comadres, não irmãs. É acreditar que o Homem não nasce livre, é acreditar em penitência, é acreditar que não são todos iguais, é acreditar que o esforço de alguém define essa pessoa. Acreditam todos e ninguém acredita que possam estar errados. Não admitem essa mesma possibilidade, a possibilidade de todas as crenças serem inexistentes, como eu admito a possibilidade de todas as suas crenças serem verdadeiras. É oferecer cafés já pagos. Não se pode acreditar na bondade humana. “Não há almoços grátis”. Não admira que tenha 2 pares de phones.